domingo, 30 de agosto de 2015

Cavaquinho: as quatro cordas que chegam do Minho ao Havai

De 4 cordas e 12 trastos, o cavaquinho não se tem mantido calado, digam por aí o que disserem. Muito pelo contrário: além de estar na moda (por muito estranho que isso possa parecer para alguns), o pequeno instrumento visto muitas vezes como brinquedo está a fazer sucesso tanto em Portugal como lá fora, ao ponto de ser utilizado como peça central de um álbum inteiro de Eddie Vedder. Também chamado de braguinha, braga, machete e, lá fora, ukulele, o cavaquinho é português independentemente do nome que lhe derem ou da forma como o tocarem. Da família dos cordofones, consta-se que nasceu no Minho, a norte de Portugal. Apesar das circunstâncias de tal origem estarem envoltas em especulação, há certeza de uma coisa: o cavaquinho foi e ainda é um sucesso, caso contrário não se teria integrado nos sambas do Brasil, nos calores de Cabo Verde e entre as ondas do Havai. Neste post, abrimos o baú e sacudimos o pó do cavaquinho, para conhecermos tudo o que existe sobre a sua história e descobrir quem é que ainda hoje faz do instrumento seu amigo.

Cavaquinho: de onde veio e porquê tanto sucesso?

Se tentarmos traçar uma cronologia à vida do cavaquinho, podemos chegar à antiga Civilização Grega, com as suas liras e cítaras de cordas, trazidas até à remota Península Ibérica pelas tribos celtas. Porém, o cavaquinho como o conhecemos hoje, com a forma característica de uma guitarra em miniatura, remonta à cidade de Braga. No século XV, as caravelas dos descobrimentos levaram o cavaquinho às costas africanas e, eventualmente, ao Novo Mundo para lá do oceano Atlântico. Ao Havai, também chegou algures no final do século XIX, pelas mãos de emigrantes lusitanos. Perceber de onde veio e como chegou a todo o mundo não é difícil. Mas porquê tanto sucesso? Além de proporcionar uma música mais solta e alegre, o cavaquinho é pequeno, simples de transportar e, por ter apenas quatro cordas, torna-se extremamente fácil de aprender. A afinação é também muito simples, estando normalmente afinada para ré-si-sol-ré.

Quem toca cavaquinho por esse mundo fora?

Mais recententemente, a popularidade do cavaquinho é atribuída a Israel Kawakawiwo’ole. Falecido em 1997, o artista havaiano é hoje recordado pelo êxito que junta dois clássicos musicais: Somewhere Over The Rainbow/What a Wonderful World. Gravada para o álbum Facing Future, lançado em 1993, a faixa só obteve o seu grande sucesso quando usada em bandas sonoras de filmes e rádios. Não bastando a letra das icónicas músicas imortalizadas por Judy Garland e Louis Armstrong, o havaino recorreu ao cavaquinho â€" chamado ukulele no Havai â€" para dar vida ao medley. A canadiana Nelly Furtado, filha de emigrantes açoreanos, aprendeu a tocar cavaquinho aos nove anos e não é a única desta geração de artistas a recorrer ao pequeno instrumento. Em entrevista à Rolling Stone, a artista country norte-americana Taylor Swift, conhecida por hits como Shake It Out e Blank Space, revelou que 'o ukulele pode trazer dimensões diferentes a uma canção' e que ficou absolutamente rendida ao som do instrumento. Hey Soul Sister, dos Train, foi um dos maiores êxitos do verão de 2011 e começa com os acordes distintos do cavaquinho, o instrumento que determina a harmonia dos quase 4 minutos da faixa. E até mesmo Zacahary Condon, dos Beirut, se rendeu ao ukulele mais por necessidade do que por curiosidade e acabou absolutamente fascinado. Confrontado com uma lesão no pulso, decidiu substituir temporariamente a guitarra pelo ukulele e o resultado foi incrível. E não nos podíamos esquecer de Eddie Vedder. A mesma voz que dá alma aos Pearl Jam e que adora surfar entre as ondas da costa portuguesa, lançou-se a solo em 2007 e editou, desde então, um segundo álbum onde usa maioritariamente o ukulele, não fosse o nome do álbum Ukulele Songs. Com uma mistura de temas originais e covers, Vedder tenta fazer de novo magia em forma de música e consegue provar a sua mestria.

E o cavaquinho em Portugal?

Não há cavaquinho em Portugal sem Júlio Pereira. O músico português conta com uma discografia repleta de cavaquinho, com álbuns com Cavaquinho (1981) e Braguesa (1982), isto para não falar das colaborações em discos de Carlos do Carmo, Zeca Afonso e Fausto. Mais do que usar o instrumento para criar música, Júlio Pereira tem-se esforçado para promover o cavaquinho a nível internacional, mostrando a sua versatilidade.
Em 1996, com O meu coração não tem cor, Lúcia Moniz conseguiu um resultado histórico no festival da Eurovisão: o sexto lugar, o mais perto do topo que alguma vez conseguimos estar. Aconteceu isto por mero acaso? Além da voz, também o cavaquinho esteve lá para representar Portugal com os seus acordes distintos., Cavaquinho: as quatro cordas que chegam do Minho ao Havai ,Ler Artigo Completo, %%url%%

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Jim Morrison: o Rei Lagarto continua vivo

Jim Morrison é mais do que uma voz por detrás de uma banda. O eterno vocalista dos The Doors é aclamado pela crítica e carinhosamente lembrado pelo público que o recorda como uma figura incontornável da arte contemporânea. Fenómeno de vendas, percursor musical e sinónimo de excessos: Jim Morrison é tudo isto e muito mais. Considerado como um dos mais carismáticos vocalistas da História da Música, Jim Morrison faleceu com apenas 27 anos. A sua morte está envolvida numa névoa de polémica e desde logo ascendeu à categoria de mito popular, dada a especulação em torno da mesma. No dia 3 julho de 1971, quando o artista foi encontrado na banheira do seu apartamento em Paris, foram mais as perguntas que ficaram por responder do que as certezas sobre o final trágico de um dos maiores mitos do Século XX. A inexistência de provas de agressão física fez com que as autoridades excluíssem a hipótese de assassinato e dispensassem a necessidade de uma autópsia. A morte natural foi decretada. No entanto, julga-se que o Rei Lagarto terá morrido de overdose, após demasiados abusos de drogas e substâncias menos próprias para uma alma sensível.

Jim Morrison: um acidente que talvez nunca tenha acontecido

Filho de um almirante da marinha norte-americana, Jim Morrison nasceu em Melbourne (EUA) em 1943, mas passou a infância de cidade em cidade, devido à profissão do pai. Os primeiros anos foram marcados por um episódio que descreveu como um dos acontecimentos mais importantes da sua vida: numa viagem para o Novo México, o jovem assistiu a um grave acidente de um camião que transportava índios. Anos depois, o sangue espalhado pelo chão e a consciência da morte ali tão perto influenciaram fortemente o espírito do carismático vocalista, assombrando canções como Peace Frog, Ghost Song e The End. O mais curioso é que esse mesmo acidente foi desmentido pelos pais que supostamente estariam com ele no mesmo automóvel.
Seja qual for a verdade, a mente de Jim Morrison gerou algumas das mais originais canções da História da Música. Com um QI acima da média, o cantor foi muito influenciado por nomes da literatura como Franz Kafka, Franz Kafka, Jack Kerouac, Jean Cousteau e Charles Baudelaire, incorporando na sua arte uma visão criativa sem complexos estilísticos.

Abrem-se as portas para os The Doors

Depois de algum tempo de vida boémia, o jovem acabou por concluir os estudos em cinema no ano de 1965. Foi no período da faculdade que se encontrou com Ray Manzarek, o teclista dos The Doors, a banda cujo nome foi inspirado no livro The Doors of Perception de Aldous Huxley. A obra retrata a influência dos alucinogénios no cérebro humano e defende como estas substâncias podem ser usadas para alargar a perspetiva do Homem sobre o Mundo. Se aumentar a percepção de todos os ouvintes para novas abordagens sonoras, espirituais e metafísicas era o objectivo foi precisamente isso que a banda liderada por Jim Morrison fez com os discos The Doors (1967), Strange Days (1967), Waiting for the Sun (1968), The Soft Parade (1969), Morrison Hotel (1970) e L.A. Woman (1971). Composta por músicos brilhantes e cada um à sua maneira bastante peculiar, os The Doors criaram um estilo musical único, caracterizado pela liberdade e génio criativo dos seus membros. Numa carreira curta, mas muito intensa, Jim Morrison partiu cedo demais, sendo considerado uma das maiores lendas da História da Música. Contudo, a sua arte e a sua voz jamais será esquecida.

DISCOS RECOMENDADOS DOS THE DOORS:

Strange Days

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L.A. Woman

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Morrison Hotel

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The Very Best of the Doors

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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Life in Photographs: o mundo como Linda McCartney o viu

Linda McCartney é conhecida por ter sido a mulher do Beatle, Paul McCartney. O que nem todos sabem é que, mesmo antes de conhecer o artista, ela já era fotógrafa. Na altura com outro apelido, Linda Eastman encontrou-se pela primeira vez com McCartney numa atuação de Georgie Fame, num clube de Londres. Estávamos, então, em maio de 1967. Nos anos 60, a fotógrafa havia começado por trabalhar como recepcionista na Town & Country, uma reputada revista do estilo lifestyle. Todavia, não tardou muito até que Linda trocasse a recepção pelo outro lado da câmara. Começava, então, uma carreira muito ligada à fotografia de bandas de rock, mas não só. Neste post debruçamo-nos um pouco sobre a vida da fotógrafa e ativista, mas damos maior destaque ao livro que mostra todo o seu percurso, Life in Photographs.   Life in Photographs é a obra editado pela Tashcen que nos faz ver o mundo como Linda McCartney o viu: do trabalho inicial como fotojornalista, aos episódios que presenciou na companhia dos Beatles, até aos últimos anos da sua vida (altura em fotografou nomes como Kate Moss e Johnny Depp). O livro é o resultado do esforço conjunto de três mulheres.  Podemos  dizer com toda a segurança que Life in Photographs é uma verdadeira narrativa visual que se estende ao longo das décadas que fizeram e conta a história de Linda e de quem com ela se cruzou. O livro é o resultado do trabalho conjunto de quatro grandes nomes. Além de Linda McCartney, Life in Photographs é assinado pela fotógrafa  Annie Leibovitz; o historiador Martin Harrison; e a também fotógrafa e editora Alison Castle. 

Linda McCartney: de recepcionista a vulto da fotografia musical

O primeiro grande marco da carreira de Linda McCartney enquanto fotógrafa foi, sem dúvida, quando ainda era rececionista. Desviando um passe de imprensa, a jovem conseguiu esgueirar-se para dentro de um iate, no rio Hudson, onde decorria um evento promocional dos Rolling Stones. A qualidade das fotografias surpreendeu a banda de Mick Jagger, ultrapassando mesmo as do fotógrafo oficial. linda-mccartney-rolling-stones Algum tempo mais tarde, um retrato de Eric Clapton fez com que se tornasse na primeira mulher fotografa a assinar uma capa da revista Rolling Stone. Ainda na década de 60, Linda capturou imagens de grandes nomes de diferentes géneros musicais: de Aretha Franklin a Jimi Hendrix, passando por Bob Dylan, Janis Joplin ou os The Doors. 1969 foi o ano do casamento. Foi então que Linda decidiu adotar o nome do marido e começar a assinar como McCartney. Antes disso, a fotógrafa tinha já acompanhado o lançamento de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. A partir do matrimónio, a fotógrafa começou a acompanhar de perto todo o processo criativo dos Beatles, assim como o início da carreira a solo do marido. A imagem que ilustra a capa do livro remonta a esse período. Tirada em 1970, foi capturada na mesma altura em que Paul McCartney deixou os Beatles para lançar o disco homónimo que abria com o tema Lovely Linda.

Linda McCartney: imagens de uma vida

Life in Photographs tem muito de fotografia musical, mas não se resume apenas a isso. O livro condensa a arte de Linda McCartney mostrando a forma como via o mundo, dos pequenos aos grandes momentos. Nele cabem tanto Michael Jackson, Stevie Wonder e (obviamente) Paul McCartney, assim como momentos do dia-a-dia como uma simples pausa para o café. life-in-photographs-mundo-de-musicasIndependentemente do objeto fotografado, o objetivo mantinha-se: transpor para a imagem a essência de qualquer coisa, fosse ela um grande nome da música, uma criança, animal ou garrafa de whisky. O trabalho era o reflexo de um conjunto experiências pelas quais passava: por influência do marido Linda, aventurou-se na música. Desempenhou também o papel de ativista do ambiente e dos direitos dos animais, e tornou-se vegetariana. Linda McCartney morreu em 1998, quando tinha apenas 56 anos, vítima de cancro. O casamento com Paul McCartney durou até à morte. Juntos adotaram uma criança do casamento anterior de Linda e tiveram mais 3 filhos. Sempre atrás da câmara, Linda McCartney deixa um legado documental da sua vida e daqueles que a rodearam. Life in Photographs é a prova disso mesmo. No livro em que a história dela se confunde com a história dos outros presenciamos momentos momentos que ficarão guardados para a posterioridade. Vejamos alguns. jimi-hendrix-mundo-de-musicas A fotografia é de 1967 e mostra Jimi Hendrix num concerto durante uma digressão nos Estados Unidos da América. Durante esta tour, o artista passou por Monterey Pop, pelo Hollywood Bowl e pelo Fillmore West. beatles-linda-mccartney A imagem acima leva-nos a 1968 e mostra um momento de descontração entre os Beatles. No mesmo ano, sabe-se que o mau ambiente entre os membros da banda levou mesmo a que Paul McCartney e John Lennon gravassem em salas separadas. whisky-linda-mccartney Na fotografia de 1978 vemos uma comparação atípica que levanta algumas gargalhadas. Aqui vemos o biberão aquele que será muito provavelmente o biberão do filho e o whisky do pai. steve-mcqueen-ali-macgraw 1973, na imagem vemos os recém-casados Steve McQueen e Ali MacGraw. A Jamaica foi o cenário de fundo não só para a fotografia como para o clássico, Papillon. O matrimónio terminou ao fim de 5 anos., Life in Photographs: o mundo como Linda McCartney o viu ,Ler Mais ..., %%url%%

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Como guardar uma foto do Instagram em alta qualidade?

Embora menos conhecido do que o Facebook, o Instagram â€" que faz agora parte da empresa de Mark Zuckerberg â€" tem ganho recentemente um papel muito importante na Internet. Desenvolvido propositadamente para o mobile, esta rede social dá destaque à imagem e fotografia, permitindo que os seus utilizadores partilhem facilmente a sua vida de uma forma muito mais divertida.   Basta tirar uma fotografia ou gravar um vídeo de 12 segundos, personalizá-lo a partir de uma biblioteca de filtros e de seguida partilhar o conteúdo no Instagram! O processo não podia ser mais simples. Se assim o desejar, pode ainda partilhar as imagens em redes sociais como o Facebook, Twitter e Tumblr. E, claro está, usar as famosas #hashtags que compilam as suas fotografias numa espécie de grande categoria partilhada por todos os outros utilizadores.   A ideia de criar uma rede que se debruça especificamente na imagem ocorreu a Kevin Systrom e Mike Krieger. Poucos meses depois de formularem a ideia e de a desenvolverem convenientemente, lançaram a rede social, em Outubro de 2010, sob a forma de um aplicativo móvel totalmente gratuito. Nas semanas que se seguiram o Instagram foi conseguindo cada vez mais utilizadores, registando no final de 2014 mais de 300 milhões de utilizadores.   A nível de Marketing Digital, esta é uma rede social com excelente potencial para interagir com o público. Além de ser possível seguir marcas, personalidades famosas e qualquer outro utilizador, é possível lançar, por exemplo, concursos que rapidamente consigam o envolvimento da audiência.   Porém, só recentemente é que o Instagram resolveu uma das suas particularidades mais aborrecidas. O Instagram não estava preparado para a alta resolução das fotografias capturadas através das câmaras de alguns smartphones. O que acontecia? A imagem era comprimida e publicada numa qualidade muito inferior ao original. Se um utilizador quisesse guardar a imagem no computador, por exemplo, teria de se resignar a uma qualidade mais baixa.  

Como guardar uma foto do Instagram?

De forma a resolver este problema, o Instagram conseguiu então aumentar a qualidade das fotografias publicadas através do aplicativo, esperando assim satisfazer todos os seus utilizadores. As fotografias passam agora a ter uma resolução de 1080 x 1080 pixeis, evoluindo da resolução anterior que se limitava aos 640 x 640 pixeis.   Para começar a usufruir deste nível de qualidade é necessário executar uma série de passos, ainda que aborrecidos, mas que não são nada difíceis. Está pronto para começar? Comece então por aceder à sua conta do Instagram a partir de um computador.   Onde está a fotografia que quer guardar? Dirija-se à conta do utilizador que disponibilizou a fotografia, clique sobre ela e de seguida clique no botão direito do rato. No menu que vai abrir, selecione a opção “Ver código fonte”.   1   Agora não se assuste! Mesmo que não perceba todo esse código confuso que está à sua frente garanto-lhe que já está muito perto de obter a sua imagem em alta resolução. Carregue em simultâneo nas teclas Ctrl + F do teclado e digite de seguida a terminação .jpg . De imediato, uma parte do código vai ficar sublinhada.   2   Copie o URL que ficar sublinhado e cole-o noutra aba do seu browser. Quase de imediato, a imagem aparece no browser, pronta para ser descarregada. O processo agora é extremamente simples: clicar de novo no botão direito do rato e guardar a imagem.  , Como guardar uma foto do Instagram em alta qualidade? ,Ler Artigo Completo, %%url%%

Rage Against The Machine: 35 pancadas em cheio na cabeça

No outro dia fui contra um poste. Era de noite, estava a despedir-me do meu grande amigo José Manuel Simões e decidi continuar a falar enquanto olhava para trás e caminhava na direcção oposta, e fui contra um poste no meio da calçada. Bati em cheio com a metade direita da cara. Doeu como o caraças, todavia sorri e continuei a caminhar. Mas foi o suficiente para me recordar como sou estúpido e distraído. E nessa altura lembrei-me dos Rage Against The Machine! Entrei no carro cinco minutos depois do incidente com o poste e meti os Rage Against The Machine a tocar, enquanto circulava na VCI do Porto de regresso a casa. A meio da música Renegades of Funk ouvi a mensagem:

“From a different solar system many many galaxies away

We are the force of another creation

A new musical revelation

And we're on this musical mission to help the others listen

And groove from land to land singin' electronic chants like

Zulu nation

Revelations

Destroy our nations

Destroy our nations”

in “Renegades of Funk”

Para uma banda que debitou tantas palavras é irónico que seja através de uma versão e não de um tema original dos Rage Against The Machine que encontro algumas das frases simbólicas mais apropriadas para descrever o seu objectivo artístico. A letra original de Afrika Bambaataa é um hino revolucionário espiritual e libertador para quem decifra a mensagem codificada. E pela voz de Zack de la Rocha ganha um duplo sentido, pois descreve também como a missão musical dos Rage Against The Machine é ajudar os outros a ouvirem hinos revolucionários por todo o Mundo.

É isso, entendi, acho que percebi tudo agora mesmo: a missão dos Rage Against The Machine não era mudar o Mundo, mas sim estimular dentro de cada pessoa uma postura realista, informada, atenta e, se possível, estimular a acção concreta e agressiva contra o sistema. As suas músicas são notoriamente anti-governo à semelhança de muitas outros artistas influenciados pela cultura hippie dos anos 70. Todos os países têm os seus cantores que difundem temas revolucionários influenciados por essa cultura, sejam eles Bob Dylan ou Bruce Springsteen, Zeca Afonso ou Sérgio Godinho, Caetano Veloso ou Chico Buarque. Contudo, os Rage Against The Machine pregam uma mensagem de acção violenta contra o sistema. Mas é apenas música, não é incitação à colocação de bombas ou coisas semelhantes… Por ser tão enérgica e brutal, embora não incapacitante, achei por bem a metáfora com o poste! Mais à frente, tudo ficou mais claro:

“We're the renegades

We're the people

With our own philosophies

We change the course of history

Everyday people like you and me

C'mon”

in “Renegades of Funk”

Uma banda na frincha da oportunidade geracional

Há mais de 20 anos que ouço os 5 discos dos Rage Against The Machine e nunca tinha pensado nestes termos. Desde o primeiro álbum homónimo lançado em 1992 que sou fã do grupo. Eles surgiram numa época ideal: a década de 90 estava a aceitar novas mentalidades em oposição à década de 80, o hip-hop ainda não dominava tudo e mais alguma coisa, a indústria musical estava disposta a arriscar em formatos diferentes. Nesta sequência de eventos, a banda fazia uma fusão entre rap e metal, algo que não era original, mas evidenciavam uma identidade própria muito forte, que impactou o mercado musical. Foi sem surpresas que o grupo cativou milhões de seguidores com o primeiro disco. Killing In The Name foi um hit global, tornando os Rage Against The Machine na banda de cariz político e intervencionista mais bem sucedida da sua geração. Cada vez que a sociedade adopta novas posturas ou muda de valores (como a aceitação do aborto ou do casamento homossexual, por exemplo), existem limites que demoram algum tempo a serem definidos. Apenas isso explica que em determinadas fases da cultura popular sejam realizados passos de ruptura que não são sequer perceptíveis por quem domina o status quo. Foi nessa frincha de oportunidade geracional que os Rage Against The Machine surgiram, expondo claramente com letras directas e ostensivas tudo o que lhes ia na alma sobre a sociedade e os valores dominantes que justificam guerras mundiais e manipulação de massas. Uma música como Bullet In The Head se calhar nos dias de hoje era… censurada. Ou talvez não, mas o que interessa é que na altura era muito contrastante com outros hits mundiais. E fazia sentido!

4 Músicos excepcionais, 2 talentos raros

Nunca é demais referir que os 4 elementos dos Rage Against The Machine são músicos excepcionais. E tenho tendência para admirar quem sabe tocar música de forma imaculada, seja lá de que género for o artista. Mas, apesar de apeciar o baixista Tim Commerford e o baterista Brad Wilk, que fazem uma secção rítmica muito forte e dinâmica, quem realmente admiro é o guitarrista Tom Morello e o vocalista Zack de la Rocha. O primeiro porque simplesmente desbunda (e desbunda muito) na guitarra: vi com os meus próprios olhos como domina o instrumento e, sobretudo, como coloca todo o seu talento ao serviço de cada canção. Não é um Joe Satriani, nem sequer um virtuoso desse género, mas para mim revela muito mais sabedoria e inteligência do que a grande maioria dos guitarristas mais famosos do Mundo. Claro que Tom Morello ouviu Jimmy Page durante muitas horas, mas quem o pode censurar por fazer novos riff zeppelianos a cada nova canção? São sempre muito bons! Contudo, nem tudo é harmonia e rock poderoso no som delicioso da guitarra de Tom Morello. Ele é motivado mais pelos fins do que pelos meios, por isso, existem solos cacofónicos e inenarráveis, e outros milhares de sons que eu julgava serem impossíveis de extrair de uma guitarra. A questão nem é se ele toca bem ou não, mas sim: como é que ele faz aquilo? Em cada disco dos Rage Against The Machine, o livrinho que acompanha o álbum tem sempre uma referência: “All sounds are made by vocals, guitar, bass and drums.” Não acredito que esta frase alguma vez tenha sido pensada para elucidar os ouvintes sobre o que fazem o baixista, baterista e vocalista dos Rage Against The Machine. Essa declaração serve apenas e exclusivamente para que todos percebam que aqueles sons alucinantes que estão nas músicas são feitos sobretudo pela guitarra de Tom Morello, que, repetindo, desbunda, desbunda muito! Na primeira visita dos Rage Against The Machine a Portugal, como cabeças de cartaz do Festival Super Bock Super Rock de 1997, vi pela primeira vez como Tom Morello tem um domínio total da guitarra, criando sons de maneira totalmente inóspita e inesperada. Desde espetar o jack do cabo do amplificador directamente nas cordas, ou fazer na perfeição um solo enquanto batia furiosamente no instrumento sem tocar qualquer acorde, Tom Morello exibiu um repertório digno de mágicos. E fazia tudo isto com uma simplicidade e humildade notórias! Horas antes, cruzei-me com o guitarrista dos Rage Against The Machine nos bastidores do Festival de Música. Com a preciosa ajuda do meu grande amigo André Hollanda, fundador e baterista dos ZEN (que actuaram nesse mesmo dia), consegui entrar para a zona onde os artistas relaxam antes de cada espectáculo. Mas não foi nesse local que vi Tom Morello em carne e osso. Apenas quando já vinha a sair da zona restrita eu e o meu amigo reparamos numa pessoa rodeada de cabos e guitarras numa rampa de acesso à parte de trás do palco principal. Era Tom Morello a carregar o material para o concerto que ia realizar dentro de algumas horas. Trocamos olhares, sorrimos e continuamos o caminho. Fiquei espantado que um dos deuses mundiais da guitarra estivesse ali a transportar o equipamento. E passei a admirá-lo ainda mais. Além de tudo isto, Tom Morello é uma personagem da cultura popular que usa a sua fama para acções concretas, sendo aliado natural de figuras como Beastie Boys, Bruce Springsteen, Jack Johnson, Eddie Vedder e muitos outros. Neste particular partilha com Zack de la Rocha uma vivência que norteou as suas personalidades artísticas.

Zacarias Manuel de la Rocha: letras para pensar e estimular acções

Também admiro muito o vocalista da banda (cujo nome verdadeiro é Zacarias Manuel de la Rocha) porque apesar de ser um limitado vocalmente considero que usa de forma excepcional as poucas qualidades que possui para criar música intensa. Não tem a amplitude de Mike Patton, nem o poder da voz de Phil Anselmo (Pantera) ou Max Cavalera (Sepultura). Todavia é um vocalista e letrista memorável, que exibe de alma aberta e de forma frontal e directa todos os seus predicados, pensamentos e adjectivos. Até ao último disco do grupo só existiam 3 maneiras que Zack de la Rocha utilizava para ilustrar as músicas: ou sussurrava, ou rappava, ou berrava. Ele não cantava propriamente melodias para trautearmos, mas o que faz é muito eficaz e musicalmente perfeito para a sonoridade do grupo de Wake Up e Freedom. Na verdade, as letras e a voz de Zack de la Rocha são a combinação ideal para a abordagem dos outros elementos. O resultado sonoro é tão coeso e forte, que parece ser maior do que a soma das partes. Um facto notório durante a existência da banda (descontando o regresso temporário do grupo aos concertos entre 2007 e 2010) é que os Rage Against The Machine foram uma banda irregular que viveu entre contradições. E não somos todos assim? Contudo, num grupo com ambições artísticas e sociais, editar apenas 3 álbuns originais (Rage Against The Machine, Evil Empire e The Battle of Los Angeles), 1 disco de versões (Renegades) e outro ao vivo (Live at the Grand Olympic Auditorium) foi manifestamente escasso. Infelizmente, o vocalista dos Rage Against The Machine colocou um ponto final na curta carreira do grupo ao abandonar o projecto em 2000. Após 8 anos de sucesso artístico e comercial, os Rage Against The Machine terminaram de forma surpreendente. A maioria das informações credíveis aponta que a responsabilidade maior cabe a Zack de la Rocha, que não queria lançar o disco Renegades. Por sua vez, os outros elementos do grupo sempre lamentaram os grandes hiatos de tempo entre cada disco, impondo de certa forma a edição deste álbum de versões, enquanto esperavam pelo vocalista para criarem um novo disco de originais. Seja como for, tais desacordos impediram o grupo de lançarem novas músicas até hoje.

É o dinheiro estúpido, é o dinheiro!

No folheto do último disco de estúdio dos Rage Against The Machine a banda ensina a qualquer pessoa uma forma de protesto que é, em simultâneo, um crime federal nos EUA… e é um acto pelo qual nunca ninguém será apanhado. No folheto eles impelem os fãs a escreverem mensagens em notas de dólar. Qualquer tipo de mensagem serve, de preferência uma mensagem que ajude quem a vai ler. Não sei quem teve a ideia, mas é brilhante que o simbolismo gráfico final dos Rage Against The Machine seja isto. O que eles querem dizer é que o sistema é… o dinheiro (sempre foi o dinheiro). O sistema não é o Obama, o partido grego Syriza, Fidel Castro, a União Europeia, ou Lula da Silva e o seu PT. Inseridas nas músicas dos Rage Against The Machine estão muitas reflexões e denúncias sobre sistemas políticos, conspirações mundiais, lado a lado com críticas ferozes às classes dominantes. Mas será que as lutas encetadas pela banda, como por exemplo os casos de Leonard Peltier ou Mumia Abu-Jamal, são relevantes para a minha pessoa? Claro que são interessantes de conhecer e acompanhar, mas eu, como a maioria dos mortais, preocupo-me muito mais com o meu quotidiano e o que se passa à minha volta. Então por que razão as histórias particulares contadas pelos Rage Against The Machine podem ser úteis para problemas totalmente diferentes e generalistas? Julgo que, como a grande maioria das pessoas, naturalmente também acho que os Governos limitam a minha vida. Considero também que os impostos e sistemas que controlam os meus movimentos desde o nascimento até à morte, e que me prejudicam diariamente através da corrupção e manipulação da verdade, podiam ser menos impactantes para todas as pessoas. Mas os sistemas são os mesmos em todo o lado e dominam todos os países do Mundo, sendo obviamente manipulados pela política e lobbies, que geram a corrupção e falta de liberdade e respeito pelos valores humanos básicos. Isto sem falar ainda do desfalque das riquezas das nações. Sim, acredito que podemos viver num Mundo melhor e que cada pessoa na sua acção individual pode ajudar nesse desígnio. Mas não vivo em ilusão. Não sou um pessimista, mas sim, como dizia José Saramago, um “realista informado”. Mas para que servem então então as músicas dos Rage Against The Machine? Servem para estimular mais “realistas informados”! Estas canções abrem pensamentos, denunciam imoralidades comuns a todo o universo e, por essa razão, eles se tornaram na banda de culto que conhecemos. Acima de tudo em cada música, álbum ou concerto, os Rage Against The Machine criaram arte de acordo com os seus valores e convicções, apelando a uma liberdade individual de pensamento realista.

A ética dos Rage Against The Machine

Raras vezes o nome de uma banda é tão directo sobre qual a mensagem da mesma. Mas Rage Against The Machine não deixa dúvidas: é música destinada a amplificar sentimentos de raiva contra o sistema. De preferência, sentimentos que sejam transformados em acções. Devido às fortes posições activistas e políticas manifestadas em todos os seus actos e canções, os Rage Against The Machine sempre foram visados por críticos, que os acusam de serem pouco éticos, hipócritas e não-filantropos, até chegam a dizer que a banda gastava muito dinheiro para fazer telediscos em vez de, por exemplo, alimentarem uma aldeia na Somália com esse mesmo investimento. A acusação principal e mais grave no entanto foi que a banda é uma fantochada, porque sempre editou pela empresa multinacional Sony. Julgo que nem vale a pena rebater muitas destas ideias, nem mencionar que os Rage Against The Machine participaram inúmeras vezes em concertos gratuitos e acções concretas de activismo na sociedade norte-americana e internacional, nem que grande parte dos lucros obtidos pelo grupo foram sendo doados a instituições de caridade, nem sequer que todo o merchandising dos Rage Against The Machine sempre foi manufacturado recorrendo a empresas de cariz social, estimulando o emprego nos EUA. Tom Morello tem uma resposta para estas pessoas, que prazerosamente transcrevo agora: “Quando vivemos numa sociedade capitalista, a moeda de disseminação da informação circula pelos canais capitalistas. Será que Noam Chomsky colocaria objecções sobre a venda dos seus livros na Barnes & Noble? Não, porque é nesse local que as pessoas compram livros. Não estamos interessado em pregar apenas para os convertidos. É ótimo tocar para casas abandonadas geridas por anarquistas, mas também é ótimo ter a capacidade de alcançar as pessoas com uma mensagem revolucionária, estejam eles em Granada Hills ou Estugarda.”

Voltando ao poste e às pancadas na cabeça…

Já há alguns dias que andava à procura de uma metáfora para descrever a mensagem desta grande banda de uma maneira que nunca tivesse sido escrita e fizesse sentido para mim. Nunca imaginei que tinha de levar com um poste na cara para perceber que as músicas dos Rage Against The Machine são como… postes parados no meio das calçadas das nossas vidas mundanas. No total são apenas 35 músicas originais, onde vamos batendo com a cabeça cada vez que as ouvimos! Mas a música dos Rage Against The Machine é acima de tudo um estado de alma, contra o adormecimento geral e pessoal, são actos brutais e agressivos para estimular acções e reflexões. São como alertas brutais de como somos estúpidos e distraídos com os nossos semelhantes e como o sistema nos controla muitas vezes a alma, coração e espírito. Neste cocktail molotov de punk, hip-hop, funk, rock e metal está implícito que a música da banda é apenas um complemento da personalidade e actividades dos seus elementos, reivindicando uma verdade revolcionária que marcou uma enorme legião de fãs em todo o Mundo. E marcou-me a mim também. Cada vez que ouço uma música ou álbum, ou tenho algum tipo de contacto com a arte dos Rage Against The Machine, é como levar novamente com o poste na cabeça, a relembrar-me de forma estrondosa: “Acorda estúpido, estás distraído, vais sofrer consequências”.  Assim aconteceu mais uma vez no final da viagem depois de parar o carro e ouvir umas tantas músicas dos Rage Against The Machine. Esse momento de clareza doeu, mas sorri e continuei a caminhar.

DISCOGRAFIA RAGE AGAINST THE MACHINE

Rage Against The Machine

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Evil Empire

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The Battle of Los Angeles

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Renegades

renegades

Live at the Grand Olympic Auditorium

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